Exposição Fotográfica
Os caminhos dos
Hupd’äh – Memórias e Documentação
Daniel Pereira e Renato Athias
II Encontro de Antropologia Visual da
América Amazônica
UFPA - Novembro de 2014
Laboratório de Antropologia visual - PPGA- UFPE
Este ensaio
fotográfico é sobre os Hupd’äh, povo da floresta, que vivem em uma zona
interfluvial do Rio Tiquié e Papuri, na região do alto Rio Negro, Amazonas.
Eles tem a Floresta como central em todas as suas atividades cotidiana. E é de
onde tem seus olhares para o resto do mundo. Essas fotografias fazem parte do
acervo do Laboratório de Antropologia Visual da UFPE, essa exposição mostra a intimidade que esse povo tem com
floresta, dando assim mais visibilidade a esses índios, que participam do mesmo
complexo cultural de todos os povos da área do Alto Rio Negro. As fotografias
foram realizadas, nessa região, nos anos de 1983 e 1984.
Os
Hupd’äh, (= gentes) habitam a região
interfluvial do Rio Tiquié e Rio Papuri, afluentes da margem esquerda do Rio
Uaupés na região do Alto Rio Negro, Estado do Amazonas. Eles são conhecidos
como fazendo parte da família linguística Maku e estão em contato com as
frentes de colonização desde o século XVIII e têm-se notícias que ocorreram
inúmeras epidemias de sarampo, varíola e gripes que dizimaram parte da
população. Atualmente, estão distribuídos em mais ou menos, 35 aldeias (grupos
locais), estimados em um total de 1.500 indivíduos. As aldeias dos Hupd’äh
estão em geral próximas aos povoados Tukano, Tariano, Tuyuka e Piratapuia,
povos falantes de línguas da família linguística Tukano, habitantes das margens
dos igarapés e rios da bacia hidrográfica do Rio Uaupés.
Uma das características dos Hupd’äh é
a relação histórica, permanente e complexa, que estes mantêm com os índios
Tukano, Desana, Tuyuka e Tariano, habitantes dos Rios Uaupés, Tiquié e Papuri.
Esta relação interétnica peculiar faz
parte da tradição dos povos desta região e merece ser preservada como forma de
garantir o equilíbrio cultural dos povos dessa região. E já foi descrita como
simbiótica, assimétrica e hierárquica, ou mesmo como relações patrão-cliente. O
comportamento dos Tukano, é justificado através dos mitos que contam a origem
dos povos da região. Os Hupd’äh, de acordo com versões Tukano do mito de
origem, foram os últimos a sair para este mundo. Conseqüentemente, são
considerados como sendo inferiores, os menores de uma escala hierárquica que
regula as relações interétnicas em toda a bacia do rio Uaupés e, por isso,
sujeitos a realização de trabalhos ditos inferiores, que apenas os clãs mais
baixos na hierarquia realizam.
Os Hupd’äh
como caçadores conhecem profundamente a floresta e trabalham pouco a agricultura extensiva como seus
vizinhos. Estão dispersos em mais de 20 clãs. Cada um dos clãs reconhece um
ancestral comum e um conjunto de práticas cerimoniais de conhecimento próprio
de cada clã. Os casamentos se dão entre os diversos clãs, pois no interior de
um mesmo clã é considerado incestuoso. O homem casado pode residir tanto no
grupo local do pai, o mais comum de se encontrar, como também pode residir no
grupo local do sogro. E como todos os grupos indígenas do Alto Rio Negro
praticam o Dabucuri e celebram o Jurupari até hoje mantém os seus próprios
kapi-vaiyá.
Os Hupd’äh
vivem em aldeias pequenas, esses grupos
locais [hayám] tem uma população que pode variar de 15 até mais
de 50 pessoas, e geralmente cada grupo local compreende membros de um ou dois
clãs. As atuais aldeias que superam esse
número de habitantes foram encorajadas e incentivadas pelos agentes
missionários. Cada grupo local é formado por vários grupos de fogo. Estes representam a unidade mínima de produção e
consumo e é geralmente formado por uma família nuclear e, em alguns casos, de
agregados. Os grupos locais estavam localizados nas cabeceiras dos pequenos
igarapés afluentes dos Rios Papuri, Japu e Tiquié. Os membros de um grupo local
perambulam dentro de certo perímetro, tendo sempre como referência um dos
igarapés, porém não migram para além deste território específico. Quando saem,
por um espaço de tempo determinado, tem a ver com visitas a aldeia dos sogros
ou um período de caçadas. Essas visitas são periódicas e representam um
elemento importante na regeneração dos recursos renováveis da área onde os
grupos locais estabelecem suas aldeias. Ocorre que, freqüentemente, os
indivíduos de um grupo de fogo podem durante o ano passar de um grupo local a
outro permanecendo por curtas ou grandes temporadas. Aliás, estas longas
visitas em outras aldeias é um fato comum, e sempre há uns visitando outros. A
capacidade de mobilização dos Hupd’äh impressiona pelo fato de conhecerem
todas as trilhas [tíw hup]
existentes e a localização de todos os grupos locais.
Dipú Pung-dëh
Hõp Kokoai
Tiw Ke'ei
Adão Tah Dëh
O grande Bihit Kokagteh'in
Húnt'úin
Os Meh Tew
Kokoai
Koap Té-in
Mari-Pung dëh
Mehtew
Yamindó-ai
Móin
Téh-ai
Doh'ré
Téh-áin
Te Kã'ãi
Máin Kurui
Hup-Tok ëgói
Indé
Ip, In, Téh
Aiup Mehtiw