A Arte Pankararu no relato de Estevão Pinto em 1938
Por Renato Athias
Mais uma vez a Biblioteca Digital
Curt Nimuendajú nos brinda como a digitalização a disponibilização “on line” de
um artigo de grande importância para aqueles que trabalham com os Pankararu.
Trata-se do texto do pesquisador, ensaísta e folclorista Estevão Pinto intitulado:
“Alguns aspetos da cultura artística dos Pancarús de Tacaratú”, publicado
em 1938 na Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (n.º
2, p. 57-92) mantida, na ocasião pelo Ministério da Educação e Saúde no Rio de
Janeiro. Uma outra versão desse mesmo texto foi publicada no Journal de la Société des Américanistes em 1952, por Alfred Métraux. Ele deve ter recebido esse texto em mãos, pois em anos anteriores em uma de suas viagens a Recife Alfred Métraux deve ter se encontrado com Estevão Pinto no Instituto de Pesquisas Sociais Joaquim Nabuco, hoje, Fundação Joaquim Nabuco.
Eu gostei muito de reler o texto que eu tinha em uma fotocópia já muito velha e desbotada, e sobretudo, poder ver as fotografias que seguramente foi ele mesmo que as fez, e aproveito coloco abaixo deste texto.
Eu gostei muito de reler o texto que eu tinha em uma fotocópia já muito velha e desbotada, e sobretudo, poder ver as fotografias que seguramente foi ele mesmo que as fez, e aproveito coloco abaixo deste texto.
Estevão Pinto tem um interesse particular
nesse texto, que é mostrar os aspectos da cultura Pankararu, além evidentemente
de situá-los no contexto dos Brejos dos Padres, buscando também conexões com
outros grupos linguísticos e povos indígenas, próximos como os Fulni-ô e de
longe que estavam sendo apresentados por outros estudiosos. Ele relata sobre
esses pesquisadores quando faz essas conexões. Uma das preocupações nesse texto
de Estevão Pinto, de fato, é sobre a arte Pankararu, mais também ele que buscar
uma explicação sobre a origem linguística dos Pankararu. Quer saber de onde
eles passam até se estabelecerem no Brejo dos Padres. Esta também era um dos
interesses de Carlos Estevão, e eles vão associar aos demais grupos indígenas
da proximidade.
O contexto intelectual, no Brasil
dessa época, era de uma valorização muito grande dos aspectos culturais dos índios,
pois se buscava fortalecer a identidade nacional e a relação dessa identidade
com os povos indígenas. Tudo isso ainda era impacto da famosa Semana de Arte Moderna
de 1922. Mario de Andrade, escritor, ensaísta e etnomusicólogo, será um dos
expoentes máximos nas divulgações das culturas indígenas e ele enviará uma
equipe até ao Brejo dos Padres (em 1938) para gravar as músicas e as danças das
máscaras dos Pankararu, durante o período que comandava as “Missões Folclóricas”.
Estevão Pinto revela, nesse texto,
como os velhos chamam este grupo indígena do Brejo dos Padres. Estevão Pinto,
depois de pesquisar na literatura existente e conversar com os velhos no Brejo
dos Padres elabora os seguintes parágrafos:
Esses nomes ainda são falados até
hoje entre os Pankararu. E se pode perceber as relações existentes entre os
Pankararu e os seus vizinhos. Os mais próximos, os Pankaiuká, os Jeripankó de
Alagoas e os Pankararé da Bahia. Essas relações são importantes para manter as
diversas trocas existentes esses povos. Um dos elementos de organização social
que Estevão Pinto coloca se refere que já nessa época a mudança de cacique e
chefes se dá através de eleição. Porém, com relação as atribuições de zeladores
de Praiás, (um personagem importante na organização social Pankararu) que
representam os terreiros onde os Encantados se apresentam, são passados
hereditariamente. Ou seja, são os membros da família que decidem sobre aqueles
que cuidam e são responsáveis pelo Poró.
As fotografias que constam no seu
texto mostram de fato os principais objetos. Gostei de ver o “Aió” dos Pankararu,
que ainda é fabricado do mesmo jeito. Representa muito para a identidade Pankararu
e sobretudo como indumentária própria das lideranças Parnakaru. O aió é um
bolsa, meia arredondada, traçada com fios da palha do Caruá que a pessoa coloca
em seu corpo cruzando o peito. Nessa bolsa costuma-se levar os apetrechos para
realizar as “obrigações” dos Pankararu. Ou seja, o tabaco aromatizado e
apropriado para se colocar no “campiô”, um tipo de cachimbo Pankararu, feito em
geral de cerâmica ou de uma boa madeira. O texto se dedica também a relatar as
principais festas Pankararu, notadamente todos aqueles em que os Praiás estão
presentes e que ele denomina de “Dança das Máscaras”.
O que me interessou mais nessa segunda
leitura, e que me passou despercebido na primeira, são as conexões de Estevão Pinto com as informações etnográficas do pesquisador Rafael Karsten quando faz em relação as danças das máscaras com as festas do Tukano do Alto Rio Negro. Ele também se baseia
nesse pesquisador para dizer que as máscaras seriam uma “evolução” dos enfeites
de plumagem. Porém, o que ele conclui mesmo é que o jeito de dançar com as máscaras dos
Pankararu, são mesmo similares aos dos índios da família linguistica “Jê”. Esse tipo de
associação buscando outras fontes para entender o fenômeno das danças das máscaras
dos Pankararu e realizando com outros autores inclusive citando também o famoso
antropólogo Alfred Métraux.
Coloco abaixo as fotografias que estão no texto de Estevão Pinto que são bastante interessantes e se pode verificar que todas elas ainda fazem parte da cultura dos Pankararu até hoje.