sexta-feira, 22 de novembro de 2024

 A Maloca Tukano-Desana e seu Simbolismo

 Casimiro Béksta




A Maloca Tukano-Desana e seu Simbolismo de C. Béksta
(Renato Athias)

Em A Maloca Tukano-Desana e seu Simbolismo, Casimiro Béksta se aprofunda no significado etnográfico e simbólico da maloca — casas comunais tradicionais centrais para as vidas culturais, sociais e espirituais de muitos grupos indígenas na Amazônia. O trabalho serve como uma exploração histórica e analítica, revisitando fontes etnográficas antigas e traduzindo observações fundamentais em uma estrutura acadêmica moderna.

Beskta se baseia significativamente nos escritos de Alfred Russel Wallace e, mais proeminentemente, Theodor Koch-Grünberg, um etnólogo alemão cujo extenso trabalho de campo na Amazônia durante o início do século XX fornece rica documentação de tradições indígenas, cultura material e cosmologia. Ao traduzir esses relatos seminais para o português e situá-los dentro dos debates contemporâneos sobre o significado da maloca, Beskta faz uma contribuição vital para a acessibilidade desses recursos para estudiosos lusófonos.

As descrições detalhadas da maloca de Koch-Grünberg destacam seu papel duplo como uma estrutura física e um símbolo cosmológico. Como Béksta observa, Koch-Grünberg documentou como a maloca funciona como um microcosmo do universo, com seu layout arquitetônico frequentemente refletindo crenças cosmológicas. Os polos centrais representam o eixo do mundo, enquanto o telhado simboliza o céu. Essas estruturas não são meramente abrigos, mas são imbuídas de camadas de significado, servindo como espaços onde rituais, narrativas e decisões comunitárias se desenrolam, reforçando assim a coesão social e a continuidade cultural.

Beskta enriquece sua análise com elementos visuais, incluindo esboços de designs de maloca, para fornecer aos leitores uma visão geral de sua diversidade arquitetônica. Essas ilustrações, inspiradas pelas meticulosas notas de campo de Koch-Grünberg, oferecem uma sensação tangível da escala das estruturas, métodos de construção e detalhes estéticos.

Ao revisitar e contextualizar os insights de Koch-Grünberg, Béksta demonstra como as observações etnográficas do início do século XX permanecem relevantes para a compreensão do significado duradouro da maloca. Seu trabalho ressalta a importância de traduzir e atualizar fontes históricas, garantindo que elas informem as discussões contemporâneas sobre sistemas de conhecimento indígenas e preservação cultural.

Em última análise, *A Maloca Tukano-Desana e seu Simbolismo* serve como um tributo à etnografia pioneira de Koch-Grünberg e um convite para investigar mais a fundo a maloca como um espaço dinâmico de identidade cultural e resistência. Por meio dessa síntese de passado e presente, Béksta fornece um recurso atraente para acadêmicos e estudantes de culturas amazônicas, antropologia e estudos indígenas.

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sexta-feira, 26 de julho de 2024

PUBLICAÇÕES



Coleções Etnográficas, Museus Indígenas e Processos Museológicos



Este livro é composto por 5 capítulos que abordam uma diversidade de temas referentes à discussão sobre os processos museológicos envolvendo coleções etnográficas e museus indígenas no Brasil, abordando estudos de casos situados nos estados de Pernambuco, Maranhão e Ceará. A organização desta publicação partiu da preocupação em refletir de forma conjugada sobre os desafios da formação teórica aliada à formação aplicada, na interface entre Antropologia e Museologia.

Resultado de pesquisas e ações colaborativas com populações indígenas, os textos resultam dos muitos anos de atuação dos organizadores na área da antropologia de museus, a partir do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade, grupo de pesquisa vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE.

Baixar pelo link:
https://editora.ufpe.br/books/catalog/book/186

SUMÁRIO


Prefácio - Lúcia Van Velthen 11

Introdução -
Renato Athias e Alexandre Gomes 17

1 | Museus Indígenas em Pernambuco: diagnóstico participativo, formação e organização em rede
Alexandre Gomes 27

2 | A coleção Etnográfica Carlos Estevão de Oliveira, Pesquisa e Documentação
Renato Athias 43

3 | Os Rankokamekrá-Canela e as fotografias da Coleção Carlos Estevão de Oliveira
Nilvânia Amorim de Barros 59

4 | Aquilo é uma coisa de índio - sistemas de classificação dos objetos no Museu dos Kanindé/CE
Alexandre Gomes 89

5 | Apontamentos etnomuseológicos sobre Casa de Memória do Tronco Velho Pankararu
Alexandre Gomes e Renato Athias 131





Capítulo Renato Athias 
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Pa'miri - Masa - A origem do Nosso Mundo
Revitalizando as Culturas dos Rios Uaupés e Papuri


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segunda-feira, 27 de maio de 2024

O Poranduba Amazonense de João Barbosa Rodrigues e o Jurupari

 


O Poranduba Amazonense de João Barbosa Rodrigues e o Jurupari



Eu visitei museus dos missionários que expõem objetos da cultura dos povos indígenas com os quais trabalho e venho trabalhando nessas últimas décadas. Nesses mesmos dias em que estava fazendo essas visitas (relacionada, ao meu projeto de pesquisa antropológica sobre objetos etnográficos), neste museu, na Itália eu vi com muita emoção a quantidade de objetos rituais dos povos indígenas guardados em gavetas na reserva e, em exposições nos museus. 

Evidentemente estes objetos mostram a ação dos missionários que trouxeram para fora dos territórios indígenas um cem número de coisas que foram deixadas pelos ancestrais dos povos indígenas e interpretadas pelos missionários como sendo objetos do diabo.

"Poranduba Amazonense" é o livro de João Barbosa Rodrigues (1842-1909) foi recentemente reeditado em uma bela edição. Obrigado Nonato @raimundononatops pelo belo presente quando estive recentemente em Manaus.

João Barbosa Rodrigues viveu em Manaus quando ele criou o Museu Botânico da cidade, no final do século XIX (1874). Era um conhecedor profundo da língua Nheengatu, e neste livro ele edita, em uma edição bilíngue, em uma tradução primorosa, nheengatu e português 54 mitos dos povos desta região. 

Neste livro ele tem um texto comentando o termo Jurupari. E faz uma crítica aos missionários que insistiam em ver o diabo nas manifestações culturais indígenas. 

Vale a pena ler o maravilhoso texto de João Barbosa Rodrigues, onde ele descreve sobre a tradução do termo Jurupari como sendo diabo, e, onde ele mostra como os missionários insistiram nesse erro linguístico e mitológico.

(Renato Athias)

mais sobre esse assunto:

 https://renatoathias.blogspot.com/2020/02/#846413060743094270


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Os Símbolos de Odé / Oxossi

 

Os Símbolos de Odé / Oxossi

Da Coleção Xangô do Museu do Estado de Pernambuco


Renato Athias


Na Coleção Xangó de objetos de cultos afro-brasileiro que faz parte do acervo do Museu do Estado de Pernambuco encontram-se três objetos confeccionados em ferro correspondente a principal imagem na cosmologia  Yorubá que se relaciona ao Orixá  conhecido como Oxossi e Odé. Não se pode saber de onde estes objetos foram retirados. Pois, a Coleção Xangô é formada por objetos quer estavam de posse da Polícia Civil de Pernambuco, com evidência de crimes. Estes objetos foram retirados de diversos terreiros, durante a perseguição aos centros de culto na década de quarenta do século passado. 

"O seu símbolo é o ofá, um arco e flecha, que faz referência a sua linhagem nobre do povo de Ketu, localizado onde hoje é a Nigéria. Não à toa, os seus filhos costumam ter o comportamento altivo, elegante e mantêm a cabeça aberta para novas ideias, sem abrir mão de seus planos pessoais." É o arco e a flecha na mão, assim é representada a imagem de Odé / Oxóssi, um dos principais Orixás no Candomblé e na Umbanda. Este Orixá que está ligado por excelência a natureza, ele enaltece tudo que a mata nos proporciona e sabe usá-la perfeitamente, conforme a necessidade." Com um caráter protetor e esperto, Oxóssi traz consigo o arquétipo do homem provedor e cuidadoso." Estes objetos de ferro da Coleção Xangô possuem as seguintes dimensões: 12cm de comprimento e 20cm de largura são de uso obrigatório no assentamento dedicados este Orixá.

Sua saudação é conhecida como "Oke Aro!" ou também "Oke! Oke! Aro" era a mais importante família real do território Ketu, da qual Oxóssi era patrono. Ainda, Oxóssi é tido como filho das entidades conhecidas como Oxalá e Yemajá. Ligado as matas, portanto caçador, daí o símbolo do arco e a flecha. O seu nome provém do Yorubá, e possui significado de guardião popular. Oxóssi é considerado o Rei de Ketu, diz a mitologia, pois livrou a população de um dos pássaros de Eleyé, quebrando assim um feitiço que este lançava sobre eles. Diz a mitologia que Oxóssi não precisa de mais que do que uma flecha para atingir o seu alvo, por sinal desta forma que ele abateu este pássaro. Por isso ele é também chamado de Otokan Soso, que é um Okiri com o significado de: guerreiro que precisa somente de uma flecha, pois nunca erra o alvo.



Oxóssi / Odé é o orixá da caça que chefia a linha de caboclos e caboclas, entre eles Urubatá, Araribóia, Caboclo das Sete Encruzilhadas, Cabocla Jurema. Também lembrado pela sua relação com a vegetação, protetor das causas difíceis, guardião dos alimentos e remédios. No Rio de Janeiro e Porto Alegre é sincretizado com S. Sebastião e festejado por isso em 20 de janeiro. No Xangô de Pernambuco é sincretizado com S. Jorge, cujo dia de festa é 23 de abril. Seu dia da semana é quinta feira, sua comida predileta o axoxó, feijão fradinho torrado, inhame e arroz. Sua roupa é azul e verde no candomblé e na Umbanda verde. Usa ainda um capacete de metal prateado, couraça prateada e na mão leva um arco e flecha denominado ofá além de um iruquerê, espécie de cabo de madeira, osso ou metal com uma cauda de cavalo presa.

Oxóssi/ Odé também se faz mais presente nos ambientes solitários e isolados, não apreciando coisas complexas ou que tirem a sua liberdade intrínseca. Junto a Ogum, Oxóssi também é a força que impulsiona o desenvolvimento e o avanço das populações, conferindo ao ser humano o instinto de explorar novas áreas. Este Orixá é a energia das grandes amizades, pois, como o líder da tribo, Oxóssi sabe o valor da união e que ela é fundamental para a sobrevivência. Suas cores são os tons de azul e verde e seu símbolo principal é o ofá, o arco e flecha.





Referência:
Prandi, Reginaldo e Rafael, Pedro. 2000. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras